SIGNIFICADO DO X-9!
Por J. Muniz Jr. – Texto retirado do livro de 64 anos da X-9 A Pioneira (Santos)
Imagem retirada do livro dos 64 anos da X-9 A Pioneira Autor: J. Muniz Jr.
Imagem retirada do livro dos 69 anos da X-9 A Pioneira Autor: J. Muniz Jr.
O porquê do nome X-9?
Vale lembrar que o nome X-9 Paulistana vem da X-9 Pioneira, com sede em Santos, a qual apadrinhou a X-9 Paulistana, onde na década de 70 tinha o nome de Filhotes da X-9. E abaixo o texto explicativo sobre o nome X-9, escrito por J Muniz Jr (Marechal do Samba), em seu livro comemorativo aos 64 anos de fundação da X-9 A Pioneira.
“Muita gente pergunta até o hoje por que a escola adotou tal denominação que chega a ser uma incógnita.
Num determinado tempo, a Rede Globo transmitiu uma novela, na qual, “X-9” era sinônimo de “Cagueta”. E através de outras novelas banais a expressão pegou e muitas pessoas passaram a divulgar que um sujeito delator é um “X-9”. E há quem acredite nisso. Em razão disso, alguns componentes da escola foram alvo de chacotas e até hostilizados.
Como todos sabem alcagüete ou alcagueta é aquele cara que entrega os outros, um denunciante, bem como um preso que fica de olho nos outros prisioneiros. Junte-se a tudo isso o fato de que, alcagueta é aquele que observa para entregar.
Não for por acaso que, diante desta insinuação maldosa, surgiu uma pergunta: “O que a Escola de Samba X-9 tem há ver com tudo isso?” Muitos não sabem explicar e já era tempo de desvendar o enigma.
A verdade é que na década de 40 do século passado, existia uma revista do gênero policial denominada X-9, que devido a violência dos seus episódios era considerada o “Império do Crime”. Seu principal personagem era o AGENTE SECRETO X-9 (Secret Agent X-9), um defensor da lei, ao lado de outros famosos detetives das historias em quadrinhos da época: Dick Tracy e Nick Holmes.
A primeira publicação das “Aventuras do Agente Secreto X-9” ocorreu em 1934, nos Estados Unidos, onde o “temerário defensor da lei, caçava os mais agressivos gangsters. Phil Corrigan, como era chamado, gozou de grande popularidade no Brasil mas décadas de 40 e 50.
O Agente Secreto X-9 também foi localizado num seriado cinematográfico, em 1937, e, em filme de 1945, ainda em tempo de guerra, quando foi transformado no 007 daquela época. Seu criador foi o famoso desenhista americano Alex Raymond, também criador do Flash Gordon.
Como se vê, tudo não passa de balela, pois em toda sua trajetória, o Agente Secreto X-9 foi um destacado detetive que combatia o crime e não um “dedo-duro”, conforme passou a ser divulgado pelo Brasil afora, através das novelas da televisão.
Ainda no contexto dessa convicção, é válido registrar que, nas décadas de 40 e 50, existiu um famigerado bandido no Rio de Janeiro conhecido pela alcunha de “X-9”. E, se alguma pessoa chegasse na época num reduto da pesada no antigo Distrito Federal e pronunciasse tal nome, era bem recebeida. Funcionava como uma senha, como um “salvo-conduto” ou mesmo com um sinal cabalístico. Diante disso, tudo leva a crer que o X e o 9 exercia uma certa fascinação no mundo do samba e no submundo das favelas.
O Autor dessas linhas teve provas disso quando de andanças – como sambista – pelos morros (Favela, Mangueira, Salgueiro, Tuiuti, Serrinha e outros) e subúrbios cariocas (Olaria, Ramos, Penha, Vaz Lobo, Irajá, Madureira, Oswaldo Cruz, Parada de Lucas e outros) nas décadas de 50 e 60.”
J. MUNIZ JR
Debutou ainda menino (levado pelo pai) no carnaval da Oraça Mauá em 1940 e, posteriormente, em 1947, começou a batucar nos blocos de Sujos da Praça José Bonifácio.
Já no ano seguinte, desfilou batendo tamborim na Tribo Aymoré e, em 1949, estava no B.C. Ases do Paquetá. Foi tricampeão pelo B.C. Chineses do Mercado nos carnavais de 1950, 51 e 52, e bicampeão pela Escola de Samba X-9 “1955/56”, onde se destacou, ao longo dos anos, como batuqueiro, passista, mestre-sala, compositor, autor de enredos e mestre de samba (Ritualista).
Também freqüentava as rodas de samba-pesado (pernada) no “terreiro grande” no alto do Monte Serrat e dançava por S. M. o Rei Momo Waldemar com o titulo nobiliárquico Lorde da Corte, ano em que também foi diplomado sambista da X-9. Foi introdutor do Dia do Samba em Santos, em 2 de dezembro de 1963, no “terreiro” da legendária Tia Inês, na Bacia do Macuco.
Em 1970, recebeu a patente Cabo do Samba que lhe foi outorgado pelo Rei Momo e pelos cronistas carnavalescos da Cidade e, em 1985, foi consagrado Marechal do Samba, título concedido pela Escola Império do Samba e que foi oficializado pelo prefeito Oswaldo Justo, com a entrega da respectiva faixa e do bastão de comando.
Também militou nas Escolas de Samba Brasil (1975 e 1977) e na União Imperial (1987). No ano de 2000, foi aclamado Cidadão do Samba Oficial de Santos por antiguidade e merecimento.
Desde 1954 já andava por São Paulo, participando da Antiga União das Escolas de Samba e da Coligação das Escolas de Samba, Unidos do Peruche, Império do Cambuci, Filhotes da X-9 e Mocidade Alegre, onde foi campeão em 1972 e 1980.
Em 1957, iniciou o intercâmbio entre o mundo do Samba de Santos e do Rio de Janeiro percorrendo os redutos de samba dos morros, dos mais distantes subúrbios onde foi distinguido com os seguintes títulos: Benemérito da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro (1963), Embaixador do Samba Carioca em Santos (1964), Ordem da Águia da Portela (1966), Ordem do Samba da Mangueira (1967), Diploma de Reconhecimento da Confederação Brasileira das Escolas de Samba (1972), Mérito Frota Aguiar (1994) e Patrimônio do Samba (Velha Guarda do Salgueiro, 1998). Também ostenta o diploma de Campeão do Carnaval do IV Centenário do Rio de Janeiro, em 1965, quando desfilou pela Academia do Salgueiro. Levou a X-9 para desfilar no Rio em 1968.
É um estudioso da Cultura Afro Brasileira, sendo autor de vários livros sobre o tema.